sábado, 30 de agosto de 2014
La Violette eau de toilette - Les Soliflores Annick Goutal
Espírito da Fragrância
Doçura de contos de fada, caixinhas de balas, querubins e fadas... O delicado frasco de La Violette by Annick Goutal cabe numa aquarela em esmaecidos tons violeta mesclados à verde fresco e mentolado. Ao seu lado posariam ninfas dos bosques, inocentes princesinhas ou gnomos travessos.
Traz o frescor de ramalhetes orvalhados, talos recém cortados, flores mergulhadas em suave doçura de passeios despreocupados nos bosques, ao início da primavera quando manhãs ainda são gélidas sob a névoa, tingidas de dourado sob calor do meio-dia.
Um tronco atravessado no caminho, coberto de musgo, ladeado de tímidas e pequeninas flores convida a fantasia, ao descanso sob céu ensolarado enquanto a mente divaga sobre livros e rabiscos.
Para Annick Goutal significava recordações da casa de família, chamada " La Violette", em l'Aveyron. De pequenos bouquets de violetas sobre toalhas brancas e engomadas...
Percepção Pessoal.
Não recordo qual violeta da minha infância veio a tona. Talvez em algum momento tenha esbarrado num frasco de April Violets de Yardley, marca que aparecia no comércio perfumado da minha cidade em outras épocas, e citada como semelhante. Entretanto a fragrância desta eau de toilette Annick Goutal me é extremamente familiar.
Intensa agreste e verde lufada de brisa fresca, quase mentolada que provoca sensação gustativa, próxima das balinhas de hortelã. Fato este que aguçou minha curiosidade pelos tradicionais, e ainda não conhecidos, doces de violeta de Toulouse.
No ramalhete recém colhido, talos e folhas vibrantes carregam odor de cedro e patchuli, úmidos e refrescantes.
Semelhante às pequenas flores femininas e delicadas, que secam suas pétalas sob cálido sol, La Violette explora a pele no calor do corpo transformando o caráter verde em doçuras.
Neste caminho, em breves momentos, veste rosa folhosa e rica, calorosa e gourmand; porém com tanta gentileza que pode passar incógnita.
Violetas persistem até o final conservando resquícios do verde, encantando pelo derradeiro empoeirado de toucador.
Prós e Contras
Extremamente intenso na primeira hora é soliflore que evolui suave, doce e intimista. Comenta-se que moléculas responsáveis pelo aroma de violetas induzem rápida acomodação olfativa. Percebo este fato quando sinto o efeito fresco e mentolado, mas me escapa o ímpeto floral do início, o que leva a questionar poder de fixação.
Porém, em vários momentos ondas do aroma se desprendem do corpo reavivando as sensações.
Similaridades
Comentários em revistas sobre perfumaria relacionam Le Violettes com Meteorites Guerlain, April Violets de yardley, Violetta di Parma de Borsari e Vert Violette de L'Artisan Parfumeur
Ficha Técnica
Família Olfativa: Floral verde, 2001
Gênero: Feminino
Perfumista: Isabelle Doyen e Camille Goutal
Rastro: Intenso a moderado
Fixação: Muito Boa
Notas Olfativas: Folhas de violeta, flores de violeta, rosa da Turquia
Arte Irmã: Na multiplicação do aroma, cor e sabor nos tradicionais chás, balas, confeitos e licores de violeta.
Violetas
Considerada a flor da fidelidade está presente de forma verde, frutada ou doce em fragrâncias clássicas e modernas.
- April Violettes by Yardley
- Blanc Violette by Histoires de Parfums
- Calypso Violette by Christiane Celle
- Meteorites by Guerlain
- My Insolence by Guerlain
- Verte Violette by l'Artisan Parfumeur
- Violetta di Parma by Borsari
- Violette by Molinard
- Violette de Toulouse by Berdoues
Imagens: Composições de Elisabeth com frascos de La Violette Anick Goutal e cartões vintage.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Perfumes Descartáveis
Cresce a cada ano o número de perfumes oferecidos para o público.
No Brasil, após descobrirem que somos os maiores consumidores de perfumaria do mundo, para onde nos viramos deparamos com perfumarias novas. Todas atrás da sua fatia neste bolo aromático.
No resto do planeta as pesquisas apontam o que o consumidor quer e avalanches de fragrâncias na mesma linha olfativa são ofertadas.
Vivemos a era da perfumaria descartável.
Ainda existem perfumistas e perfumarias que dedicam 2 ou 3 anos em pesquisas antes de
produzir uma novidade.
Entretanto são espécie a caminho da extinção. Triste.
O número de novas fragrâncias prolifera. Podemos dizer o mesmo da criatividade, da originalidade?
Creio que não.
Li algumas estatísticas esparsas sobre o assunto, opiniões desalentadas apontando este crescimento absurdo, porém um fato hoje chamou minha atenção.
Notícia velha de março de 2013, espanto renovado.
Lernert Engelberts e Sander Plug decidiram criar um perfume misturando todas as fragrâncias lançadas em 2012. Pelo menos as que conseguiram recolher em samples (amostras de 1ml ou 2ml).
Reuniram todas num frasco gigantesco com capacidade para 1,5 litro, no formato de um sample padrão.
E pasmem! Foram 1400 amostras.
O mais surpreendente para mim não foi o fato de conseguirem um aroma agradável, Uma fragrância chamada Everything, que dizem lembrar Chanel 5.
Impressionante foi o número de fragrâncias reunidas: 1400 . Em 2012! Imaginem quantas recolheriam em 2014. Quantas serão em 2020?
Alguém duvida sobre a mesmice dos aromas?
Enquanto isto clássicos maravilhosos, diferentes, personalíssimos desaparecem com igual velocidade, descontinuados. Substituídos pela avalanche de centenas de aromas descartáveis com roupinha nova e chamativa, para agradar o público consumidor.
Nossa sociedade quer o novo todo dia. Independente de ser ou não original. Mesmo que represente a cópia da cópia da cópia...
Sou um dinossauro fora da curva ou mais alguém compartilha desapontamento com os rumos deste mercado?
No Brasil, após descobrirem que somos os maiores consumidores de perfumaria do mundo, para onde nos viramos deparamos com perfumarias novas. Todas atrás da sua fatia neste bolo aromático.
No resto do planeta as pesquisas apontam o que o consumidor quer e avalanches de fragrâncias na mesma linha olfativa são ofertadas.
Vivemos a era da perfumaria descartável.
Ainda existem perfumistas e perfumarias que dedicam 2 ou 3 anos em pesquisas antes de
produzir uma novidade.
Entretanto são espécie a caminho da extinção. Triste.
O número de novas fragrâncias prolifera. Podemos dizer o mesmo da criatividade, da originalidade?
Creio que não.
Li algumas estatísticas esparsas sobre o assunto, opiniões desalentadas apontando este crescimento absurdo, porém um fato hoje chamou minha atenção.
Notícia velha de março de 2013, espanto renovado.
Lernert Engelberts e Sander Plug decidiram criar um perfume misturando todas as fragrâncias lançadas em 2012. Pelo menos as que conseguiram recolher em samples (amostras de 1ml ou 2ml).
Reuniram todas num frasco gigantesco com capacidade para 1,5 litro, no formato de um sample padrão.
E pasmem! Foram 1400 amostras.
O mais surpreendente para mim não foi o fato de conseguirem um aroma agradável, Uma fragrância chamada Everything, que dizem lembrar Chanel 5.
Impressionante foi o número de fragrâncias reunidas: 1400 . Em 2012! Imaginem quantas recolheriam em 2014. Quantas serão em 2020?
Alguém duvida sobre a mesmice dos aromas?
Enquanto isto clássicos maravilhosos, diferentes, personalíssimos desaparecem com igual velocidade, descontinuados. Substituídos pela avalanche de centenas de aromas descartáveis com roupinha nova e chamativa, para agradar o público consumidor.
Nossa sociedade quer o novo todo dia. Independente de ser ou não original. Mesmo que represente a cópia da cópia da cópia...
Sou um dinossauro fora da curva ou mais alguém compartilha desapontamento com os rumos deste mercado?
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Noix de Tubèreuse - Miller Harris
Espírito da Fragrância
Bouquet envolvente, colorido e delicado nos matizes suavemente entrelaçados, formando a trama perfumada dos jardins ao entardecer.
Enquanto o sol mergulha no horizonte flores lançam suspiros sobre a terra que cai na obscuridade.Violetas e amarelos se envolvem em sombras enquanto brancos revelam acetinada luminosidade.
Assim dançam as notas de Noix de Tubéreuse eau de parfum de Miller Harris London. Poeticamente.
Lânguidas, doces e saborosas.
Percepção Pessoal
Existem algumas incongruências entre meu "olfato jardim" e a perfumaria. Alguns florais desafiam minha sensibilidade atordoando no sintetismo das notas, mais aldeídicas que naturais. Plásticas e agudas.
Portanto flores brancas me olham ressabiadas e vice versa, apesar do aroma real ser cativante e belo. Assim mergulhei o nariz em Noix de Tubéreuse eau de parfum com antecipada resignação.
Ahhh! Boa surpresa na sutil e natural harmonia com que as flores desfilam!
Considerando a pirâmide olfativa deveria iniciar muito verde e fresco em folhas de violeta, tangerina e trevos. Devo confessar que este cheiro de clover ou trifólio (uma espécie de trevo) não me é familiar, contudo penso que meu nariz queimou etapas, e foi direto para o ramalhete de flores mornas, adocicadas e picantes; polvilhada com noz-moscada ou alguma especiaria exótica deste gênero.
Mel floral apimentado ou florzinhas melosas?
Provavelmente a imagem resulta da conjunção de douradas acácias camufladas ao abraçar alvas angélicas-de-jardim ( jacintos-da Índia ou tuberosas).
Na sequência especiarias esmaecem em camadas de feijão tonka, baunilha e almíscar brilhante.
Estranhamente o drydown oferece este acento fresco que deveria ter assumido força no início da evolução.
Entretanto as alvas tuberosas, algumas vezes também conhecidas como nardo, ainda brilham docemente, enquanto recebem discreta nuvem dos pós de toucador ou talcos femininos e discreta serragem de madeiras leves.
Similaridade Olfativa.
Cita-se proximidade com Fracas, Tuberosa L'Erbolário e Songes. Todas são fragrâncias que poderiam ser colocadas lado a lado pela elegância e apelo flora,l considerando as devidas diferenças na evolução de uma e outras. Há o lugar comum da angélica em acorde doce e sofisticado.
Ficha Técnica
Família: Oriental floral, 2003
Gênero: Feminino
Perfumista: Lyn Harris
Rastro: Intenso
Fixação: Muito boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Clover ou trifolio (trevo), violeta doce, mimosa
- Coração - Tuberosa
- base - Fava tonka, raiz de íris, âmbar.
Imagens: Composição de Elisabeth com bailarina (photo Nathan Sayers) , tuberosa, mimosa e frasco de Noix Tubereuse;Copied frascos de Noix Tubereuse
domingo, 24 de agosto de 2014
Fig Leaf & Sage - Aromatics Blends Kiehl's
Espírito da Fragrância
Existem aqueles dias que nos acordam com o céu vestido de azul esplêndido, saturado de sol declarando que a manhã vai longe. Que lá se foi o frescor e o canto de passarinhos ao raiar do dia.
Indecisa preguiça domingueira. O lá fora convida, mas o aconchego também.
E, vamos de pijamas para a cozinha nesta hora indefinida entre café e almoço.
Temperamos a carne, com as ervas aromáticas do quintal, lavamos as verduras e inundamos o ar com os cheiros daquela receita do livro novo.
Hoje tem sobremesa, lá pelo meio da tarde, pois no domingo tudo acontece devagar.
Frutas em calda, no doce mas disfarçado de saudável açúcar demerara. Figos em calda.
Um recorte de domingo.
Iniciou com sálvia, tomilho, manjerona...folhas frescas formando uma paleta de verdes. E se completou nos figos verdes, pois compotas pedem que sejam igualmente verdes.
Voltaram a mente domingos da adolescência, época em que havia uma figueira de belas e aromáticas folhas, e frutos, onde foi erguida uma cozinha nova.
Ah que saudades daqueles figos doces e caramelados.
Percepção Pessoal.
Figueira imponente no aroma das folhas e dos frutos verdes. Na composição gourmand figos aparecem embebido de cítricos leves e temperos frescos, apenas para conferir leveza, atenuando o calor amadeirado desta fruta suculenta.
Evoluindo percebe-se enfumaçado de madeiras que permite entrever o acento caloroso da sálvia..
Combinação satisfatória, equilibrada e convidativa alternando ao redor da fruta notas frescas e quentes, justamente o contraste entre temperos frescos e secos.
Doçura envolvente cresce no percurso afastando a percepção inicial de verde intenso. A medida que o acorde aromático decresce, aflora sutil,cremoso e doce floral sugerindo associação com baunilha, almíscar e sândalo.
Entretanto nada subjuga o figo. Reina absoluto do começo ao fim, seco e amadeirado como o resíduo das compotas de figo verde.
Similaridades.
Li alguns comentários comparando com Womanity. Além de serem duas fragrâncias com acentos de figos não percebo outros paralelos. Aqui existe frescor inocente e aconchegante enquanto a fragrância Thierry Mugler se destaca pela adição do acre salgado (ou metálico) de maresia que a leva por caminhos diferentes.
Outros retratam semelhança com Eau Gourmand Fresh Fig de Laura Mercier. Apesar de não conhecer teoricamente soa mais verossímil.
Ficha Técnica
Família: Verde aromático, 2012
Gênero: Unissex
Rastro: Intenso a moderado
Fixação: Boa
Notas Olfativas: Folhas de figo, sálvia, limão, bergamota, tomilho
Arte Irmã: Seria gula de chef gourmet
Receita 1: Doce de Figo Verde
Receita 2: Compota de Figo Fresco ( com a dica do saquinho de sal grosso e cinzas de madeira)
Imagens: Composição de Elisabeth com Doce de figo, ramo de sálvia e frasco de Fig Leaf & Sage - Aromatics Blends Kiehl's; copied image de figo e sálvia
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Extração de Óleos Essenciais
Óleos essenciais, concretos, absolutos e ceras de plantas aromáticas historicamente constituem a base da perfumaria.
Quando a eles nos referimos visualizamos a delicadeza romântica da enfleurage, praticamente uma referência ao filme " O perfume" ambientado no século IX.
Com a evolução industrial e mecanização se tornou possível a obtenção destes produtos em maior escala, para atender a demanda do mercado de fármacos e cosméticos.
Os métodos progrediram.
Prensagem
Processo extremamente antigo atualmente é muito usado para obter óleos cítricos pela prensagem mecânica da casca dos frutos. Geralmente se prensa o material a frio.
Enfleurage
Obtém absolutos de flores delicadas maceradas em gordura animal posteriormente tratada com etanol. Pode ser fria ou quente.
Destilação
Vídeo: Lavender and Lavandin - H Reynald & Fils - Sofia/Bulgária
Processo que utiliza calor ( vapor) extraindo fase aquosa ( hidrossol), contendo algumas propriedades aromáticas do vegetal, e óleo essencial.
Praticamente todas as partes de um vegetal, da madeira às sementes, podem ser destilados.
Desenvolvida na Idade Média passou do alambique para os enormes tanques industriais de destilação.
Na destilação fracionada os componentes aromáticos podem ser obtidos em frações de tempo diferentes proporcionando subprodutos com diversidade de concentração e qualidade aromática .
Destilação Destrutiva, ou Rectificação, não utiliza veículo aquoso ou álcool para aquecer as partes vegetais. Obtém produto defumado ( destilação seca da bétula) para construir acordes de couro e âmbar.
Extração Por Solventes
Após tratamento ou maceração com solventes orgânicos a matéria prima é submetida ao processamento à vácuo para remoção do solvente e destilação suave obtendo-se os riquíssimos absolutos e concretos.
Utilizada em flores ou partes vegetais que perderiam suas propriedades aromáticas nos processos de altas temperaturas.
Extração Com Fluido Super Crítico - Ou Extração Por CO2
Tecnologia de ponta que utiliza substrato não reativo com a matéria-prima aromática mantendo suas qualidades originais.
Gás carbônico ( dióxido de carbono) é o solvente de extração, usado em condições de temperatura próxima a do ambiente e alta pressão.
Forma-se um fluido que retira da planta os compostos aromáticos incompatíveis com a água ( hidrofóbicos).
Após a restauração das condições normais de temperatura e pressão o fluido volta a forma gasosa e evapora, ou é reciclado para reutilização.
Phytonic Process ou Extração Florasol
Recente e não muito apreciado pela introdução de substâncias poluentes ao meio ambiente extrai os princípios aromáticos com fluor-hidrocarbonetos.
Os óleos obtidos são chamados de phytols.
Referências: Wikipedia; Innerpath Aromatherapy; Abdul Samad Al Qurashi;H Reynald & Fils ; eng. g.ed.tr, Think natural; National Association For Holistic Therapy; Colagem com imagens de "O Perfume" e frascos de óleo essencial;
Marcadores:
Destilação,
Enfleurage,
Extração CO2,
Extração Fluído Super Crítico,
Extração Óleos Essenciais,
Extração Solvente,
Phytonic Process,
Prensagem
domingo, 17 de agosto de 2014
Amber Oud eau de parfum - Floris London/Vitrine 2014
Edward Bodenham, perfumista da família Floris, vasculhava antigos documentos da perfumaria quando encontrou uma garrafinha antiga, provavelmente da época de George V.
Guardava o odor intenso de âmbar original indicando que este óleo essencial era usado nas fragrâncias da época.
Decidido a elaborar uma nova fragrância inspirada no aroma resolveu adicionar oud para enriquecer o acorde, e rosas visando conferir frescor e leveza.
Mantendo âmbar como acento principal da base, usou incenso e baunilha para ampará-lo, enquanto patchuli e ladano conferiram o tom amadeirado.
Edição limitada de By Request o eau de parfum Amber Oud pode ser encontrado na exclusiva loja inglesa da 89, Jermyn Street.
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Bergamota, frankinsence
- Coração - Oud, patchuli, rosa
- Base - Âmbar, oud, ládano, baunilha
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
O Barato Sai Caro? - Távola 5
- Como definir o valor de um objeto?
Existem valores distintos embutidos nos objetos que adquirimos. Pensando no quanto eles satisfazem nossas necessidades e desejos, e o custo para obtê-los presumimos um valor subjetivo ou qualidade percebida.
O preço do sonho.
Entretanto se analisarmos racionalmente nos deparamos com a qualidade intrínseca ou com os aspectos que lhes atribuem valor quando comparados a objetos da mesma categoria.
O valor real.
Comparando um perfume de grife com proposta semelhante, vinda da perfumaria popular, vemos que sua qualidade percebida, pode ser atribuída em parte à seletividade, conceito ou luxo, enquanto a qualidade intrínseca se origina na concentração de ingredientes, acuidade de preparo e controle de qualidade.
Em teoria, pois frente a inúmeras decepções com o barato e/ou caro, percebido e intrínseco, concluí que antes de nortearmos nossa escolha por dogmas e conceitos é necessário o crivo do bom-senso.
- O barato sai caro?
Geralmente, apesar de existirem exceções.
Apesar de não possuirmos tradição centenária nosso mercado em perfumaria avança rapidamente. Muitas empresas grandes e pequenas se esforçam para escapar do estigma da similaridade de clássicos europeus ou norte-americanos oferecendo novidades a menor custo.
Os famosos contratipos apresentam diferencial monetário, porém matam a perfumaria, embotando a criatividade, acostumando o público consumidor ao segundo plano da imitação, em detrimento da singularidade..
Enquanto no lançamento de uma fragrância original estão envolvidas dezenas de pessoas, desde o conceito até as prateleiras, cópias andam no vácuo como os meninos de bicicleta na traseira dos caminhões.
Menor preço sim, que não compensa devido a baixa concentração de óleos aromáticos e deficiente fixação. Três ou quatro vidros duram o tempo de 1 (hum) original importado. Isto sem argumentar sobre o aspecto não ético da cópia.
Não é minha tea cup apesar de ter experimentado vários e até, numa ou outra vez, me beneficiado da semelhança.
Porquê o sucesso dos similares e contratipos da perfumaria popular?
Principalmente pelo custo. Provavelmente em paralelo pela acessibilidade.
Devido à vários critérios da política comercial do país fragrâncias nacionais, que em qualidade se equiparam as importadas, estão quase no mesmo patamar de custo. Altíssimo. Tanto nacionais como importadas. Principalmente se observarmos que na Europa e América do norte grandes marcas oferecem produtos de ótimo nível a preços ( locais) muito acessíveis.
E as aqui fabricada, de maneira geral, não seguem o mesmo padrão de originalidade ou a diversidade de opções. Falta estímulo a inventividade da nossa indústria. Ou sobram empecilhos.
Quanto as tradicionais amostras ou pequenas frações... saíram do âmbito da publicidade sem ônus para o consumidor passando para distribuição vinculada à compras vultosas, ou sendo vendidas(!). Adição de mais lucro, cobertura da fatia de bolo.
Da mesma forma testers que eram vendidos no e-commerce por reduzidos valores estão equiparados em preço aos frascos com tampa e embalagem, salvo diferença mínima.
O que resta para o bolso do consumidor? Similares, inspirados, contratipos encontrados como fragrâncias populares a baixo preço.
Péssima realidade.
- Como se posicionar neste mercado difícil?
Procurando de coração aberto e nariz afiado ocasionalmente encontraremos pérolas no mar de mesmices.
Despindo nossos critérios do preconceito contra a mercadoria barata, nem sempre ruim, e considerando que ocasionalmente nos deparamos com perfumes medíocres amparados por grifes famosas, o que vale é a procura minuciosa, que permitirá separar o joio do trigo.
Trilhando neste caminho lembro prazerosamente de fragrâncias acessíveis que usei cotidianamente em muitos períodos da vida.
Serena The Perfume de Artmatic - Frasco metalizado tubular preto, parecendo desodorante spray, era um poderoso "americano" incensado, vendido em pequenas lojas no centro da cidade, lá pela década de 80.
Wil Musk Oil de Coty- Óleo de aroma intenso no pequeno frasco marrom que mais parecia remédio de ervanário. Espalhava na pele doçura almiscarada e tentadora, apesar da origem totalmente artificial.
Seiva de Alfazema da Phebo - Tradicional, conhecida nos quatro cantos do país; leve e delicada trazia as lavandas para o pós banho, principalmente nos dias quentes de verão.
Tabu de Dana - Apesar da fragrância figurar em coleção, atualmente uso talco e desodorante que se prestam a coadjuvantes de inúmeros perfumes especiarados ou apimentados da velha escola. As "bombas" dos anos 80.
Mimos de outrora que comparados aos objetos de desejo vindos do estrangeiro primaram pelo baixo custo e agradável retorno.
Esta é máxima importante, quase lei, no universo comercial: - Relação Custo Benefício.
Não? Neste caso, se possível, adote a sabedoria popular que apregoa: - Nada é caro quando satisfaz nossas necessidades.
Imagens: Meerward-apple; Charges de Cartoon Stoc; Serena The perfume by Artmatic em imagem do youtube; Wild Musk Oil Coty; Seiva de Alfazema Phebo; Publicidade vintage Tabu Dana
* Leia o que outros autores sobre perfumaria escrevem na Távola ou Mesa Redonda!
1 Nariz; A Louca dos Perfumes; Blog da Helen Fernandes; Le Monde Est Beau; Odorataparfums; Parfumée; Perfumart, Pimenta Vanilla; Van Mulherzinha; Village Beauté; Templo dos Perfumes.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Givenchy Gentleman - Givenchy
Começo dos anos 70... Década de personagens heroicos - Gene Hackmann em Operação França - ou rebeldes - George Scott em Patton - de vilões memoráveis ou encantadores como Marlon Brando em O Poderoso Chefão e da sensível e charmosa dupla Paul Newman e Robert Redford em Golpe de Mestre.
Em todos cairia com beatitude a colônia Givenchy Gentleman, pois mantinham o lugar comum de sedutora masculinidade.
Entretanto, Marlon Brando, na dualidade do personagem mafioso capaz de ferir como aço ou amparar com ternura, de postura calma e ponderada, quase amorosa, escondendo vontade férrea é o que melhor expressa este aroma.
Saída vigorosa, citrina que rapidamente substitui a aragem fresca por acorde morno e picante, indicando especiarias como a canela e sugerindo uma evolução condimentada.
Contudo, as notas a seguir trazem o inesperado dulcificado de mel e flores numa suavidade que surpreende. A medida que a doçura atenua os acentos do topo, também desnuda o herbáceo terroso e especiado de patchuli e vetiver, contidos pelo sedoso acento verde da raiz de íris, pelo ligeiro e fresco amadeirado do cedro.
Do fundo emerge o requintado acorde que revela a sensualidade deste espécime masculino clássico, forte e dominante.
Acento animalic a predominar até que todo a fragrância volatilize: Couro, apimentado, amadeirado e caliente.
Alguns relatos comparando a fragrância atual ao original de 1974, argumentam sobre possíveis substituições de componentes, como a civeta.
Apesar de não conhecer o perfume da época de lançamento, posso detectar este ardor apimentado e caloroso a indicar almíscar, couro e madeiras, conferindo profundidade.
Talvez originalmente o acorde animalic tenha superado a extensão da fórmula atual, revelando o verdadeiro aroma de couro russo, curtido com óleos de vidoeiro, pinus, salgueiro ou carvalho, porém os ingredientes atuais garantem uma colônia rica e sofisticada.
É composição que reune falsa discrição com acordes cálidos, sensuais doces e estáveis, digna de Don Vito Corleone.
Reedição:Resenha de Elisabeth Casagrande em 21 de julho de 2009
Imagens: Marlon Branco como Don Corleone -O Poderoso Chefão; Publicidade de Givenchy Gentleman
FICHA TÉCNICA
Família Olfativa: Amadeirado
Gênero: Masculino
Perfumista: Paul Léger
Rastro: Intenso a moderado
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo:Bergamota, limão, rosa, canela, mel
- Coração: Patchuli, orris (raiz de íris), jasmim, cedro
- Base: Couro, âmbar, baunilha, almíscar, patchuli, vetiver, musgo de carvalho.
COURO RUSSO
Couro nobre, luxuoso, originalmente exclusivo da Rússia, impermeável e geralmente tingido de vermelho, cuja propriedade como repelente de insetos se deve ao odor agregado pelo método de curtição.
Muito utilizado nas encadernações de luxo, por garantir a conservação prolongada dos livros, pode ser obtido na curtição das peles de cavalos, vitelos e cabras.
Tratado com óleos obtidos da casca do salgueiro, pinus e bétula (vidoeiro) ou uma mistura dos três habitualmente conhecida como "óleo russo", este couro é impregnado com matéria proveniente da destilação de madeira de bétula, cozido em sândalo vermelho, madeiras brasileiras e água de cal.
A principal substância a produzir o aroma característico é um princípio ativo chamado betulina.
Imitações oriundas da França, Aústria e Inglaterra alcançam bons resultados em similaridade, desde que os produtos ou espécies utilizados sejam de origem russa.
Outras fragrâncias com acento de couro russo são: Cuir de Russie (Chanel), Cuir Ambre (Prada), Amalfi Flowers (Creed), Ambre a Sade (Nez a Nez), Ambre Russe (Parfum d'Empire), Bogart ( Jacques Bogart), Business Man (Oamouge), H.O.T Always ( Bond N.9), Jules (Christian Dior), Le Parfum D'Ida (Neil Morris), Luciano Pavarotti ( Luciano Pavarotti), XS Extreme pour Homme (Paco Rabanne), Água Brava ( Antonio Puig).
Arte Irmã: Se fosse poesia seria...
Ouvi os Sábios (Fernando Pessoa)
Ouvi os sábios todos discutir,
Podia todos refutar a rir,
Mas preferi, bebendo na ampla sombra,
Indefinidamente só ouvir.
Manda quem manda porque manda,nem
Importa que mal mande ou mande bem.
Todos são grandes quando a hora é sua.
Por baixo cada um é o mesmo alguém.
Não invejo a pompa, e ao poder,
Visto que pode, sem razão nem ser,
Obedece, que a vida dura pouco
Nem há por isso muito que sofrer
Imagem: Fernando Pessoa por Almada Negreiro
Vídeo: Nino Rota - The Godfather Theme
MM for Men - Molinard
O doce M M já foi M2M e esteve vinculado à imagem polêmica. O belo torso nu com o frasco displicentemente acomodado sobre mãos cruzadas provocou um frisson que determinou uma exposição discreta e reduzida nas páginas e painéis.
Dificilmente vemos o banner de silhueta obscurecida, embora outros nus mais veementes ou explícitos circulem completamente a vontade no diversificado contexto publicitário da perfumaria.
Talvez a reação exagerada se deva a aura de elegante tradição que envolve Molinard e não pressupõem excessos publicitários.
Controvérsias a parte o perfume permanece à disposição do público masculino, seduzindo os adeptos da perfumaria marcante, intensa picante e adocicada.
Um frescor leve e cítrico anuncia o aroma, logo envolvido por acento apimentado do cravo da índia e melífluo da flor de laranjeira. Sensação de doce ardor.
Em breve este acorde cristalino adensa na contribuição das temperadas resinas e madeiras de base.
Cedro seco, raspante, aliado ao patchuli herbáceo e mordaz contribuem para quebrar a inicial doçura, lisa e quase gourmand, que também sugere delicadeza de noz-moscada imersa em baunilha.
Em vários momentos esteve mesclado na minha memória olfativa com seu conterrâneo de lançamento, Balman by Pierre Balmain, onde percebe-se a intensidade amadeirada de cedro, e a herbácea de patchuli embora o o reforço aromático para o acorde amadeirado fique a encargo da sálvia.
Menos doce, M M prolonga a nota cítrica que, embora sutil demonstra pungente adição da madeira teck com seu odor citrino e resinoso.
Se compartilham acordes e dulçor semelhantes à princípio, durante a evolução tomam rumos diferentes.
Balman prossegue em intensidade achocolatada encaminhando-se para os braços da fava tonka.
M M avança aromático pungente e resinoso. Mantém uma refrescância que repele aspectos enfumaçados e quentes embora sua pirâmide indique incenso.
Suavidade floral e cítrico revigorante fazem o contraponto às madeiras, que se não fossem assim contidas invadiriam rudemente todos os espaços, dominando a cena.
Três notas poderosas - cedro azul, madeira teck e sândalo - combatem longamente pela primazia sem chegar a definição.
Finalmente a acidez fresca, amena e aromática abranda em almíscar e âmbar provocando nas madeiras um suave polvilhado.
M M atravessa três estágios distintos: Doce e sedutor no início, vigoroso, seco e refrescante durante o intermédio, confortável e protetor no abandono final.
Reedição: Resenha de Elisabeth Casagrande em agosto de 2009
Família Olfativa : Amadeirado especiado, 2004
Perfumista: Marie Duchêne
Gênero: Masculino
Rastro:Intenso
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo -Limão, neroli (flor de laramjeira), cravo-da-índia, noz moscada
- Coração - Rosa, incenso, patchuli, cedro Atlas (cedro azul), madeira de teck
- Base -Almíscar, âmbar, cedro , dândalo
Arte Irmã: Circularia num ambiente onde ouvissem... Cake - I Will Survive
Imagens: Campanha publicitária de M2M by Molinard; Composição com frasco de M M /Molinard - site oficial e imagem de escultura em madeira teck- Dr.Papillon and Hoedic.
domingo, 3 de agosto de 2014
Scent of Woman - Perfume de Mulher
Drama, New York e Al Pacino. Tais ingredientes transformaram o romance italiano Il Buio e Il Miele (1969) no filme Perfume de Mulher (1992), digno de Oscar.
Anteriormente a mesma historia foi adaptada para a sétima arte e representada por Vittorio Gassman e Dino Risi em Profumo di Donna (1974).
Entretanto a cena onde o personagem Frank Slade ( Al Pacino) convida una bella donna ( Gabrielle Anvar) para dançar o tango Por Una Cabeza , de Carlos Gardel, é simplesmente encantadora.
Tanto que quase sentimos o perfume do casal deslizando na pista.
Vídeo
Jovem e doce, a bela senhorita no contexto original dos anos 60 se perfumaria com Chant D'Aromes de Guerlain e posteriormente com Une Folie de Rose de Les Parfums Rosine na década que antecedeu a virada do século. Uma licença poética considerando que Folie de Rose surgiu em 2004...
Frank usaria o estimulante cítrico aromático Eau Sauvage Dior, em qualquer época.
Vários filmes e seriados televisivos apresentaram sequências embalados na melodia icônica.
Outro exemplo charmoso é a cena de tango em Bons Costumes/Easy Virtue ( 2008) com a qual Larita ( Jessica Biel) e Sr. Whittaker ( Colin Firth) surpreendem a conservadora família dos anos 20.
Sincera e irreverente Larita ficaria perfeita com L'Heure Bleue de Guerlain contrastando o elegante Blenheim Bouquet de Penhaligon's em Sr. Whittaker.
Vídeo
Por Una Cabeza - Música de Carlos Gardel / letra de Alfredo Le Pera ( 1935)
que justo en la raya aflora al llegar
y que al regresar parece decir
no olvides, hermano
vos sabes, no hay que jugar .
Por una cabeza, metejón de un dia
de aquella coqueta y risueña mujer
que al jurar sonriendo
el amor que esta mintiendo
quema en una hoguera todo mi querer.
Por una cabeza todas las locuras
su boca que besa borra la tristeza,
calma la anargura.
Por una cabeza si ella me olvida
que importa perderme
mil veces la vida para que vivir...
Cuantos desengaños, por una cabeza,
yo jure mil veces no vuelvo a insistir
pero si un mirar me hiere al pasar,
sus labios de uego, otra vez quiero besar.
Basta de carreras, se acabo la timba,
un final re^nido yo no vuelvo a ver,
pero si algun "pingo" llega a ser fija el domingo
yo ne juego entero, que le voy a hacer."
Assinar:
Postagens (Atom)