quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Rêve de La Reine eau de parfum - Arty Fragrance


Espírito da Fragrância
Elisabeth de Feydeau além de perfumista em Arty Fragrance é historiadora,  especialista  na monarquia francesa, com profundo conhecimento sobre o reinado de Luiz XVI e Marie Antoinette.
Analisando  antigos documentos encontrou o que parece ser solicitações da  imperatriz ao seu perfumista Jean Luiz Fargeon, expressando o desejo de que ele aprisionasse num balão o aroma do jardim Petit Trianon.
A história conta que ao ser coroado, após a morte de seu pai, Luiz XVI presenteou sua esposa, Marie Antoinette, (19 anos)  com o  chateau e jardim Petit Trianon,  que originalmente fora construído para a concubina de Luiz XV, Madame de Pompadour.
Solicitações da rainha modificaram  a estrutura do Petit Trianon, imprimindo ares de jardim inglês ao projeto de linhas rígidas e geométricas.  Na sequência o belo jardim ganhou na vizinhança um conjunto de edificações campestres chamado Humeau e ambos se tornaram o verdadeiro domínio de Antoinette.


A jovem imperatriz amava a natureza e a perfumaria em provável herança da infância e adolescência nos domínios austríacos, ricos,  porém menos sofisticados que a corte francesa.
Esta fragrância reflete o que poderia ser uma síntese do local... inúmeras flores, os pomares, o exotismo do Jardim Botânico, muito próximo, criado em 1759 no reinado de Luiz XV.
La Rêve de La Reine ou "O Sonho da Rainha" é uma composição floral idealizada no estilo de bouquet "mille fleurs" típico do século XVIII.
A imaginação nos leva aos roseirais da imperatriz, ao seu amado jardim em maio,  quando floresce a rosa centifolia, aos aromas cítrico e amadeirados , transportados pelo ventos, talvez temperos e condimentos das hortas de Hameau

Percepção Pessoal. 
Rêve de La Reine ...Rico, intrigante, prolixo e vintage.
A cada momento de experimentação permite uma sensação diferente.
Inicialmene desperta atenção  pelo acorde cítrico, denso, doce e picante,  evoluindo lentamente  na pele se comparado com a fragrância sobre o papel.
Interessante paralelo, como se em substrato diferente as notas saltassem afoitas.


Mais tarde, vestindo o perfume,  e assistindo uma atriz em cena dramática ambientada no século XIX, cujo traje leve de seda  ondulava ao vento no alto de um penhasco, admirei-me do esvoaçante lilás e associei aos movimentos desta fragrância.
Flores brancas tingidas pela cor  intensa da rosa centifólia e finalmente subjugadas pelo seu impacto...Pensei na doçura do benjoim, no empoeirado fresco da íris, pimentas que vão e vem realçando agrestes e verdolengos cítricos...poderíamos pintar um quadro lírico e romântico com estas notas,  em variações de magenta.


Creio que suas modulações também são influenciadas pela variação climática. 
Na minha cidade, instabilidades de primavera fizeram a temperatura oscilar 12ºC à 14ºC em 1 hora de tempestade, e percebi que minha interpretação das notas igualmente se modificou
Duas possibilidades: Muda o nariz  com a mudança climática ou muda a expressão da fragrância.


Em determinados momentos o bouquet assombra, nostálgico, vintage. Noutros, em semelhante espaço de tempo evolutivo, torna-se doce, cremoso e dengoso, apesar do verde frescor, cítrico, picante e  cristalino.
Entretanto sempre foi possível entrever junto ao floral efeitos da fava tonka, doce em tênue aroma de coconut e sabonete de toucador.
Rêve de La Reine se afirma  na concepção de floral clássico.


Peculiaridades 
O frasco idealizado para a primeira fragrância pessoal de Arty Fragrance é a expressão dos desejos de Marie Antoinette. Um delicado balão estilizado concebido em tons de dourado e madrepérola finalizando no borrifador elegante sugere o conteúdo floral de jardim rico e profuso.

Ficha Técnica
Classificação: Floral, 2014
Gênero: Feminino
Perfumista: Elisabeth de Feydeau
Rastro: Intenso
Fixação: Ótima
Pirâmide Olfativa:
  • Topo - Bergamota, laranja, petitgrain, tangerina, pimenta preta, groselha 
  • Coração - Gálbano, absoluto de rosa de maio, íris.
  • Base - Citronela, cedro, madeira de sândalo, benjoim, patchuli, fava tonka, almíscar.


PS: Além de laureada historiadora, Elisabeth de Feydeau é autora ( Scented Palace: The Secret History of Marie Antoinette's Perfumer)  e participou, junto de Francis Kurkdjian,  da recriação de um perfume, possivelmente usado por Marie Antoinette,  Sillage de La Reine.


Arte Irmã: Na pintura de Jules Girardet - Le Temple de L'amour et Le Petit Trianon

Imagens: Colagem de Elisabeth Casagrande, desenho de plantas de Wikipedia, imagens de Petit Trianon - domínio público, manutenção de Petit Trianon (copied), imagens de Rêve de La Reine gentilmente cedidas por Arty Fragrance.


2 comentários:

  1. Toda vez que visito seu blog é tanta riqueza, tanto encantamento, tanto bom gosto que não resta nada a não ser dizer as mesmas falas de sempre:

    " obrigado e parabéns"
    :]

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    1. Oi Rafael. Obrigada! É sempre um prazer este retorno que os leitores e amigos nos trazem. Estou agora mesmo trabalhando numa resenha sobre uma criação encantadora. Você vai gostar. Eu amei o tema. Beijocas de Elisabeth

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