quinta-feira, 14 de maio de 2009

Debut - Parfums DelRae



É a sensação de achar um belo canteiro, recém desabrochado, pétalas balançando suavemente na aragem, que traz inebriante mistura de flor e folha.
Rapidamente este momento é substituído por um acorde rico, condimentado, onde pressentimos a ardência controlada dos cítricos...
Mesmo assim o bouquet não desvanece.
Quando senti pela primeira vez não, pude fugir a comparação aparentemente óbvia.
Aroma de um baile de debutantes, jovens, frescas e encantadoras.
A bailar com seus vestidos esvoaçantes, entre o reluzir dos cristais, o burburinho dos comentários, fluindo na música.
Árvores balançando ao vento.

Parece-me vívido este belo e animado quadro.
Ah! Baile de debutantes, uma tradição que está perdendo sua força mas ainda conserva alguns encantos.
Teima em subsistir talvez porque seja um evento romântico, belo e delicado, a lembrar serenatas, noites perfumadas da primavera.
Alguns acharão piegas... Provavelmente é.
Certamente não o pai orgulhoso, que apresenta uma jovem mulher, conduzida pelos seus braços, numa encantadora valsa.
Naturalmente não a mãe emocionada, que vê passar num relance, tantos anos de alegrias e de aflições - naturais à maternidade, culminados na linda e risonha jovem a sua frente.
E com certeza não a teenager que está entre muitas, rodopiando feliz, perfumada, sonhadora, transbordando a beleza e feminilidade da sua encantadora juventude.
Ah, o romantismo...Lâmina afiada ferindo a nossa dura realidade, contradizendo ( alguns diriam zombando) os desvarios sociais.
Concordo. É uma cerimônia dispendiosa, pouco prática, dispensável.

Mas há de se negar a beleza por ser efêmera?
Se assim fosse não prestaríamos atenção ao voo dançarino dos insetos, ao degradée absolutamente fantástico do arco-íris, ao perfume de flores, sequer ao canto das cigarras.
Não haveria arte, música ou brilho.
Nem compreenderíamos a escuridão se não houvesse luz.
Necessitamos da beleza, das românticas tradições, assim como de perfumes belos e puros.
Destes aromas límpidos intensos e primorosos iguais ao encontrado em Debut!
Onde reconheço o lírio, entre a delicadeza das outras flores. No qual provavelmente reconheceremos a sedutora ylang ylang. Notas florais inebriantes envolvidas nesta doçura quase melíflua, uma assinatura de notas cálidas, levemente apimentadas a flutuar leves e acariciantes.
Alguém sugeriu que poderia ser um perfume imaginado na contemplação da Natureza no florescer da primavera, sob aromáticas árvores de tília, ouvindo o murmúrio de uma fonte de águas cristalinas...
Bela imagem! Debut é uma ode as flores, como se fosse poesia a falar da primavera, um quadro pintando o desabrochar.


Poucos conhecem tílias nas nossas terras, mas muitos percebem a beleza que neste perfume está revelada como a juventude e o frescor, num sopro prolongado.
Deliciou-me.
Lindo baile e alegres princesinhas relembrando cenas de Sissi-Princess, delicadamente perfumadas do começo até a última dança.
Debut cuja sillage elegante e límpida persiste por longo tempo diluindo seu encanto floral nos braços de um amadeirado doce e terno.
Lamento não termos DelRae ao nosso alcance, mas sugiro a quem tiver oportunidade que conheça Debut.
Para aqueles que se encantam com florais é uma tentadora opção.






Imagens - Alameda do Jardim da Fundação Art & Parfum iniciado por Edmond Roudnitska- Riviera- France /Fotografia de Michel Roudnitska;Sonho de valsa,1999 de www.marciomelo.com; Cenas e publicidade do filme Sissi- Romi Scheneider


Família Olfativa: Floral, 2204
Gênero:feminino
Perfumista: Michel Roudnitska
Rastro: Intenso
Fixação: Ótima
Notas Olfativas: Bergamota, lima, ylang ylang, folhas frescas, lírio selvagem, tílias, ciclamem, vetiver, sândalo , almíscar

ImagemPublicidade Parfums DelRae


 Arte irmã na poesia e na música

" Por mais que tente o vento
não consegue adormecer
se naõ tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília
de bambu ou buganvília" Jorge Sousa Braga- Herbário, Lisboa- Assírio e Alvim,2002

Vídeo: Valsinha de Chico Buarque de Hollanda

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, prá seu grande espanto, convidou-a prá rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

 

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