Espírito da fragrância
Nos trópicos da linha equatorial, sob céu azul límpido e infinito, despontam as ruínas da antiga cidade, sombreada e disfarçada pela vegetação selvagem em mil tons de verde...
Folhagem caleidoscópica e flores perfumadas enfeitam a entrada do templo, na praça principal. No seu interior um segredo milenar.
Dentro da urna pergaminhos, surpreendentemente preservados, contam a história da maior riqueza que poderia ser presenteada ao homem.
Revelam a flora, o imensurável valor botânico, descortinando ervas de aroma contundente ou misterioso,que nos trazem bem estar pelo simples fato de exalarem seus perfumes.
Percepção Pessoal
No primeiro encontro, numa perfumaria em Higienópolis - São Paulo, apresentou-se como floral doce e agradável, que persistiu na memória provocando a vontade de nova avaliação. E eis que o revejo, meses após, noutra perfumaria no Batel-Curitiba.
Diversidade de clima, situação e horário despertaram a percepção de explosão verdejante, condimentada, quase ardida, algumas vezes medicinal, porém envolvente, das ervas que precedem uma delicada braçada de flores.
O acorde do topo é límpido, cristalino como folhas orvalhadas nas primeiras horas da manhã. Estimulado pelo calor corporal, a semelhança do próprio astro-rei, aprofunda-se na busca de refúgios próximo aos troncos, embrenhando na mata, esbarrando em resinas frescas, raízes balsâmicas e folhas recentemente cortadas.
Agridoce... doçura agreste que se desdobra em camadas sutis, reveladoras das belas flores cuja soberania é concedida à rosa anômala, verde e extravagante.
Se há frescor de hortelã no princípio, percebemos força de raízes, vetiver, resinas e folhagens exóticas na evolução.
Provavelmente o leve ardor presenciado nas circunvoluções do aroma sobre a pele se devem a interação das notas de cravo com ervas frescas e o floral abstrato concebido para a rosa.
Segundo os perfumistas a sensação de umidade advinda de madeira e musgos é conseguida através da miscigenação da fragrância exalada pelas folhas de Caladium ( cheiro de hera+pimenta verde), vetiver e âmbar.
Convém anotar que todas as partes da folhagem ornamental do gênero Caladium são venenosas e a nota aromática é uma concepção laboratorial, assim como a rosa amadeirada.
Na sequência, após desfilarem inúmeros tons verdes há um final róseo, floral, ambarado, que transmuta do colorido vibrante para o pastel delicado, doce e levemente amadeirado.
Prós e Contras
Visualmente é bonito e estranho, no tubo em listras B&W, inserido dentro do frasco transparente, sólido, que sinaliza através do design inovador uma pesquisa, a captura de essência floral e botânica.
Não afinou com a minha visão do perfume, menos geométrica, apesar do verde afiado.
Similaridades
Não especificamente uma fragrância, contudo evocou a lembrança dos acordes verdes da casa Pierre Balmain, e da rosa verde de Guerlain. Leitores de uma revista on line indicam semelhanças com a linha olfativa de L for Woman de Clive Christian, Prima del Teathro de San Carlo de Carthusia e Madison Square Park de Bond No 9.
Ficha Técnica
Família Olfativa: Floral verde, 2012
Gênero: Unissex
Perfumistas: Olivier Polge e Jean Christopher Herault
Rastro: Intenso
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Hortelã
- Coração - Rosa, cravo, folhas de caladium
- Base: Vetiver e âmbar
Arte Irmã: Seria o livro de ilustrações e citações botânicas de Robert John Thornton (1799) "O Templo de Flora"
Imagens: Robert John Thornton (1799) "O Templo de Flora" do site Jardim de Siguta,
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