quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Diário de Um Perfumista - Jean-Claude Ellena

Não leio um livro, desvendo o homem perfumista.
Talvez este seja o motivo do vagar. Geralmente devoro livros numa madrugada, ou entre um almoço e jantar, entretanto  aqui me detenho há dias.
Cada página ou pequeno capítulo deste diário me faz parar. As vezes longamente reflexiva, noutras distraída na inquietação de  breves instantes .
Sou a blogueira, a que descreve de forma amadorística  sensações provocadas pelos perfumes, representando  outra visão,  outro lado da moeda.
Causa-me timidez isto.
Não conseguirei mais ver meus escritos da mesma forma. Li palavras que existiam no meu íntimo e brotaram através de outro, concretizei conceitos antes etéreos,  pressentidos,  o que provocou  novo olhar para a  perfumaria.
Quanto mais aprendo mais sei que nada sei.
Pulsou firme um desejo...talvez em outra vida eu me transforme numa perfumista, se a sociedade assim o permitir, talvez nesta eu  crie um perfume. Tosco, balbuciante, disforme e bonito para minha janela interior..
É possível que  nunca mais me atreva a julgar ou descrever perfumes ou provavelmente desande entusiasmada a registrar minhas rudes impressões. Somos seres imprevisíveis.
Apesar  destas consequências o  livro me fascina, assim como outros lidos a pouco, versões sobre o mesmo tema; o  labirinto emocional  complexo  do qual perfumistas se alimentam,  vivendo nesta arte que tenta apreender ou absorver a  abstração  sensorial que nos acompanha desde sempre.
Não é um livro comum. Desnuda, revela e provoca familiaridade.
Surpreendentemente não li ainda o Breviário dos Aromas o que imaginei seria a primeira ávida procura, pois não é incomum que eu leia as obras do avesso,  e nós amadores somos incautos seduzidos pelos conceitos aromáticos.
Contudo negligentemente caí na primeira página e segui dia após dia, companheira constante deste diário sonoro, colorido e perfumado.
Não terminei, ainda leio, apenas fiz  breve pausa para transcrever  um pouco do  que percebi  do retrato de um homem... perfumista:


"- Fujo do sol procurando  a sombra dos bosques. Se o aspecto lânguido das praias me deixa entediado as enseadas e os recifes me atraem. Gosto do mar e do seu horizonte quando meu olhar se perde e o azul do céu e do mar se confundem.

- A maior parte  das ideias são consequência de  de um trabalho assíduo e cotidiano, resultado as vezes de encontros, de passeios, de vagabundagens, de leituras, de momentos de disponibilidade do espírito.


- Acredito contudo, que a melhor situação para desenvolver a criatividade é  a de trabalhar sozinho e sem uma avaliação, o que não significa sem diálogo. Mas estar só  é também saber administrar a solidão, e o risco de perda de ânimo que pode se associar a ela. Vivo esta solidão como uma liberdade escolhida.

- Nunca procurei impor, minha busca é guiada pela preocupação constante de encontrar o equilíbrio entre o sensível e o inteligível. Sou mediterrâneo.


- Sei que a palavra e mais ainda os odores não tem o mesmo significado  para cada um de nós; contudo os odores são objetos que os perfumistas podem transformar, reviver, mudar. É justamente porque  mudam de sentido que eles vivem."

Cabri, uma semana em agosto de 2010.

Vídeo: Jour d'hermès - Interview Jean-Claude Ellena


Imagens: Livro em foto de Elisabeth Casagrande, Jean Claude Ellena bureau,

2 comentários:

  1. Adorei! Tb estou lendo aos poucos e me sinto bem assim como vc, rs...

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  2. É uma delícia não é? Adoro ler e reler livros sobre perfumaria. Beijocas de Elisabeth

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