Talvez este seja o motivo do vagar. Geralmente devoro livros numa madrugada, ou entre um almoço e jantar, entretanto aqui me detenho há dias.
Cada página ou pequeno capítulo deste diário me faz parar. As vezes longamente reflexiva, noutras distraída na inquietação de breves instantes .
Sou a blogueira, a que descreve de forma amadorística sensações provocadas pelos perfumes, representando outra visão, outro lado da moeda.
Causa-me timidez isto.
Não conseguirei mais ver meus escritos da mesma forma. Li palavras que existiam no meu íntimo e brotaram através de outro, concretizei conceitos antes etéreos, pressentidos, o que provocou novo olhar para a perfumaria.
Quanto mais aprendo mais sei que nada sei.
Pulsou firme um desejo...talvez em outra vida eu me transforme numa perfumista, se a sociedade assim o permitir, talvez nesta eu crie um perfume. Tosco, balbuciante, disforme e bonito para minha janela interior..
É possível que nunca mais me atreva a julgar ou descrever perfumes ou provavelmente desande entusiasmada a registrar minhas rudes impressões. Somos seres imprevisíveis.
Apesar destas consequências o livro me fascina, assim como outros lidos a pouco, versões sobre o mesmo tema; o labirinto emocional complexo do qual perfumistas se alimentam, vivendo nesta arte que tenta apreender ou absorver a abstração sensorial que nos acompanha desde sempre.
Não é um livro comum. Desnuda, revela e provoca familiaridade.
Surpreendentemente não li ainda o Breviário dos Aromas o que imaginei seria a primeira ávida procura, pois não é incomum que eu leia as obras do avesso, e nós amadores somos incautos seduzidos pelos conceitos aromáticos.
Contudo negligentemente caí na primeira página e segui dia após dia, companheira constante deste diário sonoro, colorido e perfumado.
Não terminei, ainda leio, apenas fiz breve pausa para transcrever um pouco do que percebi do retrato de um homem... perfumista:
"- Fujo do sol procurando a sombra dos bosques. Se o aspecto lânguido das praias me deixa entediado as enseadas e os recifes me atraem. Gosto do mar e do seu horizonte quando meu olhar se perde e o azul do céu e do mar se confundem.
- A maior parte das ideias são consequência de de um trabalho assíduo e cotidiano, resultado as vezes de encontros, de passeios, de vagabundagens, de leituras, de momentos de disponibilidade do espírito.
- Acredito contudo, que a melhor situação para desenvolver a criatividade é a de trabalhar sozinho e sem uma avaliação, o que não significa sem diálogo. Mas estar só é também saber administrar a solidão, e o risco de perda de ânimo que pode se associar a ela. Vivo esta solidão como uma liberdade escolhida.
- Nunca procurei impor, minha busca é guiada pela preocupação constante de encontrar o equilíbrio entre o sensível e o inteligível. Sou mediterrâneo.
- Sei que a palavra e mais ainda os odores não tem o mesmo significado para cada um de nós; contudo os odores são objetos que os perfumistas podem transformar, reviver, mudar. É justamente porque mudam de sentido que eles vivem."
Cabri, uma semana em agosto de 2010.
Vídeo: Jour d'hermès - Interview Jean-Claude Ellena
Imagens: Livro em foto de Elisabeth Casagrande, Jean Claude Ellena bureau,
Adorei! Tb estou lendo aos poucos e me sinto bem assim como vc, rs...
ResponderExcluirÉ uma delícia não é? Adoro ler e reler livros sobre perfumaria. Beijocas de Elisabeth
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