Um perfume a contar histórias.
Relata-se que foi uma homenagem de Madame Lanvin aos 30 anos de sua querida filha Marguerite, talentosa musicista.
Entretanto as notas que emanam do lindo frasco idealizado por Armand Rateau, estampando o símbolo do amor materno no elegante design Art-Deco sussurram outras histórias aos meus ouvidos.
Narrações sobre vida aguerrida e vibrante.
Acordes ácidos e cítricos pincelam o início precoce da grande estilista, nos primeiros passos, aos 13 anos, como modesta aprendiz de costura confeccionando chapéus.
Seguem-se notas cortantes em intensidade aldeídica, ligeiramente amarga, como a rejeitar lembranças de época tão alvoroçada.
Entretanto sentimos doçura na rosa e ylan-ylang que afloram comprovando a impossibilidade de atribulações sufocarem a alegria espontânea da quase criança.
Vida difícil na virada do século, acompanhando o avançar da industrialização numa Europa repleta de perturbadoras mudanças.
E num mundo tão masculino...levemente refletido na evolução de Arpège..
Trajetória de trabalhos exaustivos, provavelmente alguns sacrifícios, moldaram a fibra resistente da pequena Jeanne encontrando reflexo na intensidade especiada e resinosa que podemos apreciar na fragrância.
Arpejo musical, onde notas são tocadas uma a uma, como em sequência biográfica, relatando a progressão de uma vida.
Maturidade profissional, amor e maternidade explodem num bouquet encantador.
sucesso vivificado na doçura dos acordes que nos dizem...finalmente novos tempos brindaram aquela que chamam de Madame Lanvin
Vida intensa que continuaria pontilhada por acontecimentos vibrantes, espelhados na profundidade das notas agrestes deste perfume clássico.
Cotidiano suavizado abrindo espaço para a ternura, como a doce cremosidade da baunilha em macias e empoeiradas notas de sândalo e âmbar burilando o verde terroso, apimentado e incensado de patchuli, vetiver e benjoim.
Finalmente encontra sua definição no final de aroma limpo, almiscarado,em mansidão não submissa porém confortável, como se a retrospectiva mostrasse missões cumpridas.
Uma vida pródiga!
Será assim? Pouco conheço desta história, além das informações truncadas que circulam pela nossa globalidade. Entretanto agrada-me pensar que sim. Imaginar que esta talentosa senhora Lanvin, em algum lugar, onde sua essência permanece vívida, sorri complacente e assertiva da minha imaginação pueril.
Família Olfativa: Floral aldeídico,1927
Gênero: Feminino (compartilhável)
Perfumista: André Fraisse e Paul Vacher
Rastro: Intenso
Fixação: Ótima
Pirâmide Olfativa:
- Topo - Aldeídos, tangerina, neroli
- Coração - Rosa, ylang-ylang, íris, jasmim, cravo, gerânio, angélica, lírio-de-maio, coentro
- Base - Patchuli, vetiver, sândalo, baunilha, stirax.
Arte Irmã: Se fosse música seria Blues In The Night na voz de Katie Melua
Imagens: Frasco Arpège -foto Elisabeth Casagrande; Publicidade Lanvin - Arpege 1927; Modistes Lanvin mlimers-1930; Desenhos da coleção lanvin -anos 20; Ícone Lanvin-Paris , 6 de julho 1946
PS: Reprodução da postagem original de 15 de abril de 2009 em Perfumes Bighouse.
Beth! Linda resenha, Arpege é absolutamente fantástico, uma obra prima da perfumaria clássica. Amo!
ResponderExcluirObrigada Mariana. também gosto muito. Um dos clássicos que não podem faltar. Beijocas de Elisabeth
Excluir