terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Rancidez Oxidativa


Rancidez Oxidativa: Que tormento... o perfume mais amado, aquele que por caprichosa ironia usamos pouco, gota a gota, controladamente, como se fosse o último, amanhece diferente.
Parecendo que algum sortilégio maligno perdeu-se por ali, transpassando seu invólucro vítreo e, transformando o príncipe em sapo.
Que desgosto... aquela cor intensa e inusitada cai sobre a pele tingindo, denunciando gritando..
Rançou!
É amigos... rancidez oxidativa não escolhe credo, cor, camada social ou coração.
Ataca a todos indiscriminadamente.
Para combatê-la é necessário saber como acontece.
A natureza esconde em suas mais variadas espécies, vegetais ou animais, uma variedade de gorduras
Os vários tipos  estão até onde não suspeitamos, como no inocente e calmo maracujá, no aromático café, ou no condimentado e picante orégano.
E entre estes tipos de gordura estão grandes vítimas: Ácidos graxos insaturados essenciais.
Pelo nome já deduzimos que são  muito necessários para os organismos.


Particularmente um, conhecido como Ácido Linoleico.
Ah... este é um alvo fácil!
Quem é o vilão ? Principalmente o Oxigênio.
Sim! O imprescindível Oxigênio.  Maroto, versátil, temível!
Pode transformar-se num poderoso radical livre (super-óxido hidrófilo) que ataca sem dó ou piedade o pobre  linoleico. Transforma-o em compostos que, ligados a eventuais hidrogênios, geram elementos totalmente diferentes: Peróxidos, alcoóxidos, e epóxidos .
Estes senhores e senhoras, diga-se logo, não cheiram bem.
Literalmente. E, como se não bastasse são tóxicos.
Oh...pobre perfume.


Na fase inicial do processo de rancidez, chamada Indução,  ocorre o ataque do oxigênio,  e quase não percebemos o trágico acontecimento.
Surgem ácidos graxos modificados  que também agem como radicais livres, e induzem outros.
Oh my godness... Uma bola-de-neve. Catastrófico!
O mal se alastra rapidamente. Esta fase tem nome. Propagação.
Que pena! Se tivéssemos percebido antes...
Talvez alguns paliativos adiassem o inevitável final.




Neste momento surgem alterações de cor, viscosidade, sabor e principalmente odor;  que não acontecem em cronologia, em ritmo sempre igual..
Algumas misturas resistem bravamente mantendo vislumbres do aroma original, mesmo que pareçam um vinho rosè ou tinto. Permanecendo com odor inalterado durante muito tempo.
Que consolo...
Ainda bem que não ingerimos perfumes, pois os resíduos deste ataque são irritativos, lesam células, podem ser até cancerígenos.
Podemos evitar a Rancidez Oxidativa ?
Não!
É natural e ocorre espontaneamente na presença de oxigênio. Mas, é possível retardá-la.
Assim como a maioria das reações químicas, esta precisa de algum incentivo.
Oxigênio é fundamental, contudo a velocidade aumenta muito se houver luz, calor e alterações de pressão.
Assim devemos manter nossos preciosos  guardados a sete chaves,  em ambiente livre de umidade e calor!
Preferivelmente protegidos por embalagens azuis, para evitar a ação dos raios luminosos. Marrom e verde escuro também é eficiente. Mas lembram que azul evita amarelamento do branco? Por aí...



Um detalhe irritante é que algumas fragrâncias  rançam mais rápido do que outros.
Porquê?
Tudo depende da quantidade de Sr. Linoleico que os óleos essenciais apresentam.
Na baunilha p.ex. está em torno de 14% do seu teor lipídico.
Aparece em quase tudo. Nos cítricos, nas flores, nas especiarias...
Entretanto, a sábia mãe natureza equilibrou a balança.
Dotou muitas espécies de antioxidantes naturais, como compostos fenólicos, os famosos anti-oxidantes,  verdadeiros guerreiros que contém os ímpetos destruidores do oxigênio.
Como presentes de fadas madrinhas para um destino de Bela Adormecida.
Estes fenólicos destemidos estão presentes em grande quantidade de ervas,  especiarias, e outros alimentos ou pigmentos da natureza. A baunilha tem compostos aromáticos fenólicos. Auto defesa.


Tão poderosos que existem os  sintéticos usados em larga escala, industrialmente.
Porém notícia ruim não vem sòzinha!
Também somos assombrados pelos microorganismos lipolíticos, micróbios que rançam gorduras ou compostos gordurosos.
Fabricam armas poderosa: Enzimas!
Uma tal de Lipase, que, dependendo de circunstâncias e local, é heroína para medalha, neste caso age como vilã.
Acelera a reação do oxigênio transformando os pobres ácidos graxos em radicais livres também.
Nossos inocentes  creminhos, ricos em proteínas e sais minerais são um banquete.
Todo cuidado é pouco para evitar a contaminação fatal. Daí não estranharmos quando as moçoilas guardam seus potinhos de creme na geladeira. Principalmente aqueles importados caríssimos.
Mas o temível odor aparece, as vezes butírico, como naquela manteiga esquecida fora de refrigeração, noutras um estranho aroma de sabão de coco, como em bebidas lácteas.
Indiscutivelmente ranço.
Uma vez conhecido não se esquece jamais.
Perderemos a guerra ... um dia. Mas, se a estratégia for boa no início, este fim demorará a chegar.

Imagens: Organza Givenchy de Elisabeth Casagrande, Baunilha de Kitchen Aid, Própolis de Revista Espaço Aberto.Plantas de Óleos Essenciais.

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